Viagens, culturas, aventuras, montanhas, escaladas, trilhas, fotografia e filmes da natureza.

“Para viajar basta existir. ... Fernando Pessoa

19 de abril de 2010

As Cataratas Vitória, O Deserto da Namíbia e A Cidade do Cabo

As Cataratas Vitória


Victoria Falls fica na fronteira entre a Zâmbia e o Zimbabwe e é uma das maiores cataratas do mundo. O volume de água é tão grande nessa época do ano que a fumaça produzida pelas quedas pode ser vista da cidade de Livingstone a 10 quilômetros de distância. É impossível fazer uma visita e não sair molhado, seja na ponte que une os dois países sobre o caudaloso rio Zambeze, ou nas plataformas dos parques que protegem as áreas de conservação ao redor. Infelizmente a densa fumaça branca impede de ver a cortina. Acredito que a melhor forma de apreciar essa beleza da natureza é do alto, com um passeio de helicóptero. Fora do orçamento, me contentei com os respingos atravessando a ponte-fronteira, admirando o caldeirão que o rio forma logo após a queda, apropriadamente chamado de "Pote Efervescente".

O Deserto da Namíbia


O deserto é formado por dunas gigantes de areia vermelha e domina toda a costa da Namíbia. Banhado pela corrente fria do Atlântico é a maior fonte de diamantes do mundo. Visitantes vão para o Parque Nacional Etosha ao norte em busca de safaris. Alguns se aventuram a conhecer a Costa dos Esqueletos, uma região inóspita repletas de carcaças de navios e ossos de baleias na praia.
A Namíbia tem uma das menores densidades demográficas do mundo e a maioria da população se concentra na capital Windhoek. Os nomes das ruas e estilo das casas têm origem na sua colonização alemã. A língua mais falada é o afrikaans, baseado no holandês, seguido pelo alemão e o inglês. A Namíbia recebeu sua independência oficialmente em 1990 da África do Sul, por isso os dois países se parecem tanto e são muito desenvolvidos comparados a demais países da África.
Foi um verdadeiro choque quando cheguei em Windhoek: avenidas largas, hipermercados, shopping center, postos de gasolina 24 horas...

Cape Town, Cidade do Cabo, África do Sul




Cape Town é a cidade maravilhosa da África: tem bondinho, praias, montanhas e uma vida noturna agitada. Não é a toa que é o lugar que mais recebe visitantes na África, a cidade é linda. Repleto de atrações, turistas, estudantes e moradores podem visitar pingüins, vinícolas, aquários, subir na Table Mountain de bonde ou a pé, fazer compras no Waterfront ou surfar em Camps Bay, mas tem que estar com roupa de neoprene pois a água é gelada.
O clima tranquilo dessa cidade charmosa diminui os efeitos do Apartheid e são menos sentidos, mas não totalmente esquecidos. O bairro do Distrito 6 foi desapropriado em 1966 e o governo removeu moradores negros para uma área a 25 quilômetros do centro. Com o fim do regime, as propriedades estão retornando aos seus antigos donos.

Assim finalizo essa viagem com o circuito Zâmbia, Namíbia e África do Sul.

A África foi uma surpresa encantadora para mim. O Brasil herdou muitas características, hábitos, culinária... temos muito em comum. Só conheci uma parte dessa cultura forte de origens tribais.
Espero que tenham gostado dos relatos e viajado um pouco comigo.

8 de abril de 2010

A jornada


A espera na estacao


Plantacao de milho


Lenta progressao


Fim da linha da paciencia


Empurra que vai

Tazara, o desafio

Viajar independente por alguns países da África não é uma tarefa fácil.
Cansada de carregar minha "pequena" mochila para cima e para baixo, trocar de van, minibus, chapa, dalla-dalla, combi ou o transporte que aparece pela frente, optei pelo trem Tazara que viaja entre a Tanzânia e Zâmbia.
Teoricamente a viagem dura 40 horas, tem saídas as terças e sextas-feiras, às 15:30 e 15:00h. Primeira e segunda classes tem camas no compartimento. A terceira classe, assentos. Homens e mulheres só podem viajar na mesma cabine se reservarem o compartimento inteiro.
Comprei minha passagem para terça-feira na segunda classe.
Com $hilling$ da Tanzânia contados, peguei um ônibus coletivo lotado, no meio de uma chuva, com minha mochilona e a mochilinha. Pingava de suor, a umidade do ar de Dar Es Salaam já é alta, com chuva...
Chegando na estação de trem o sol já ardia de novo, as pessoas na rua começaram a me alertar: - não há trem hoje, só amanhã.
Na portaria a informação se confirma: "o trem vai partir quarta-feira, às 18:00h. Houve um acidente e o trem só chega amanhã."
Voltei para o centro da cidade desapontada, acreditando que o trem ainda seria a melhor opção, mesmo com um dia de espera.
Dia seguinte, as pessoas se aglomeravam em frente à estação. 18:00h e nada. As pessoas começaram a se agitar. Mensagem de voz no auto-falante: - ...tivemos um pequeno atraso e o trem partirá as 21:00h, agradecemos a compreensão.
Após suspiros e reclamações gerais, voltamos a esperar.
Com 27 horas de atraso, embarcamos nos vagões. Ao entrar no meu compartimento, vários pacotes dominavam os bancos. O carimbo TZR indicava que pertenciam a companhia. Tentaram me colocar em uma cabine além de lotada, os filhos acompanhavam as mães. Tentei mudar de classe, não havia lugar. Encontraram um compartimento vazio e me colocaram lá. Ocupei o espaço pelo resto da viagem, ou pelo menos até onde tinha esperança de terminar a viagem.
Uma vez o trem em movimento, seguiu normalmente com paradas no meio do nada, desembarcando mais pessoas que embarcando. Acredito que somente pessoas sem opção do onibus ainda esperavam pelo trem. Após 24 horas de viagem e uma noite mal dormida com mosquitos e solavancos, o trem chega em Mbeya, metade do caminho. Nos informaram que devido ao acidente, teríamos um trecho que faríamos em ônibus, embarcando novamente no trem do outro lado. Detalhe: o trem não estava lá ainda. Prazo: amanhã 9:00h. Consequência: segunda noite no trem. Ocorrências: com o trem parado, além dos mosquitos, baratas apareciam por todos os lados. Resultado: segunda noite mal dormida.
Amanheceu. Perto do horário informado, recebemos a nova promessa: 19:00h e sem garantias. Uma mulher gentilmente me alertou que ela e mais algumas pessoas estavam desistindo do trem. Foi a deixa. Peguei minhas mochilas, alertei os coreanos que resolveram seguir viagem comigo. O trem já estava quase vazio...
Uma vez na estrada, a viagem seguiu. Embarcamos em um micro-ônibus até a fronteira e em Nakonde, já em Zâmbia, haviam vários ônibus para Lusaka. Depois de lotarem o compartimento de bagagem, colocarem o resto da carga nos bancos do fundo e no corredor, nosso ônibus partiu no final da tarde com um certo atraso. Eu achava que não cabia mais nada, ainda mais depois de testemunhar o método zambiano de fazer caber os sacos cheios de não-sei-o-quê dentro do bagageiro: se não pulando em cima dos sacos, chutando a porta do bagageiro para poder fechar. No meio da noite o ônibus parou no meio da estrada. Pessoas apareceram da escuridão e todos começaram a tentar entrar no ônibus com suas bagagens.
O ônibus do dia anterior havia quebrado e as pessoas estavam há uma noite e um dia inteiro esperando no meio da estrada. Umas dez pessoas conseguiram entrar e se alojar sobre as cargas no corredor e nos bancos do fundo. Uma mulher reclamava que deveriam ter enviado outro ônibus para eles, no mínimo. Alguns ainda ficaram na estrada. Sem mais ocorrências, chegamos em Lusaka amanhecendo. Ainda tive coragem para pegar um outro ônibus para Livingstone, mais 7 horas sacolejando na estrada em reforma, assento número 67. Como isso é possível? Era um dos ônibus com assentos compactos, uma fileira de dois lugares, um corredor apertado e na outra três lugares.
Quatro dias depois, um dia de atraso e três de viagem, duas noites no trem e uma no ônibus, cheguei ao meu destino na Zâmbia.

Obs: Há pessoas que viajaram de trem e ocorreu tudo bem. A linha atravessa o Selous Game Reserve e muitos vêem animais da janela do trem, como um bônus safari. Mas acredite, quando as coisas não estão boas, lembre-se que tudo pode piorar.