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“Para viajar basta existir. ... Fernando Pessoa

27 de julho de 2010

Hatun Machay

Se a Cordilheira Blanca é o paraíso da escalada em gelo, a Cordilheira Huayhuash dos caminhantes; a Cordilheira Negra é o paraíso dos escaladores em rocha.



Hatun Machay fica na Cordilheira Negra a 4200 m.s.n.m. a cerca de 2 horas de Huaraz.
A "Grande Caverna" (Hatun=grande; Machay=caverna) é uma formacao de rochas impressionante formado pela erosao do tempo.


Misteriosa, há pinturas rupestres com mais de 15 mil anos.





Há boulders para toda a vida ou ate os dedos aguentarem a rocha porosa de origem vulcanica e inúmeras vias de 15 a 60m de altura com diversos níveis de dificuldade.







O Andres da Andrean Kingdom leva escaladores ate o refugio com transporte privado, ou entao voce desce no quilometro 131 da estrada principal (Huaraz-Lima) e caminha por cerca de uma hora e meia. No refugio ha cozinha equipada onde voce pode dormir por 30 soles ou acampar por 20 soles.

Aclimatando na Huayhuash


O plano inicial era realizar o circuito Huayhuash "Andino", uma variante mais alta da famosa caminhada que ja possui passagens de 4000 e 5000 metros de altitude no seu circuito normal.
Preparei minha mochila para nada menos que uns 8 dias de comida, crampons e piolet para travessias em glaciares e roupas para o frio, muito frio. Nao precisei da metade do peso que carreguei.
Comecei a jornada com o onibus das cinco horas da manha de Huaraz a Chiquian, uma simpatica cidadela de mil habitantes. Foram quase tres horas de viagem pela estrada Lima-Huaraz que se esta em reforma, por muitas vezes, temos que esperar o revezamento da passagem resultando em uma longa espera. Em Chiquian, tomo outro onibus para Llamac, mais algumas horas de viagem. Meio sonolenta, despertei quando avistei os picos nevados no fundo do vale e ao ver os precipicios ao lado das rodas do micro onibus. Llamac parece que parou no tempo, as ruas sao de terra e vazias.
Comeco a caminhada em direcao sudoeste da cidade com o sol das onze horas queimando a pele paulistana. Cruzo com muitos turistas terminando o circuito, todos com pelo menos oito dias de trilha e um sorriso de satisfacao no rosto. Sao algumas horas de subida com muita poeira por causa dos animais utilizados para transporte ate a trilha bifurcar. Uma passa pela primeira passagem a 4200m e a outra segue a curva de nivel a 4000m. Com peso e ja comecando a sentir as dores do carregamento, sigo pelo contorno. O caminho segue como na linha de um mapa topografico contornando a montanha, sempre a mesma altidude. Apos uma das curvas, tenho uma bela surpresa: o vale do rio Achin e as montanhas nevadas Jirishanca, Yerupaja Chico e o grande Yerupaja, a maior da cordilheira com seus 6635 metros. Os nevados sao minha visao ate o anoitecer passando pelo branco, laranja, rosa e finalmente o cinza... cor da noite quando cheguei ao acampamento da Laguna Jahuacocha.


Desse ponto abandonei o circuito normal do Huayhuash: guias, caminhantes, arrieiros, barracas, burros, cavalos, cachorros e o contato total com a civilizacao. Somente vacas e alguns passaros me faziam companhia.
Subi a duas outras lagoas: Rasacocha, formada pelo rio Rasac tambem verde esmeralda e finalmente Barrosococha, cinza, alimentada pelos glaciares onde acampo a 4600m.


Comeco a sentir um cansaco alem do normal e a passar muito mal. Planejava cruzar o Paso Rasac, a 5100m que avistava ao fundo, mas no terceiro dia so consigo andar uma pouco mais de uma hora onde acampei a 4800m. Passei o dia inteiro mal, acreditava que era por causa da altitude, mas depois fui perceber que era... a agua.

Nao tive mais forcas, enfrentei o peso, a altitude, mas saude e fundamental. Retornei a Llamac e em seguida a Huaraz. 90% do onibus de volta eram turistas voltando da caminhada, imaginem os odores que pairavam dentro do onibus com vidros fechados por causa da poeira e lotado de caminhantes sem tomar banho por dias... Eu era a que estava a menos tempo na trilha, cinco dias. Normalmente se faz o circuito em oito, mas ha pessoas que fazem em ate catorze dias!
Acabei fazendo boas amizades no onibus, que me levariam para meu proximo destino...

17 de julho de 2010

Laguna Churup

Segundo dia em Huaraz, dia seguinte do acidente meu pe continua inchado, porem menos dolorido. Arrisco uma caminhada a Laguna Churup. E possivel ir de taxi, mas preferi um colectivo (vans utilizadas para transporte publico) que aproxima o contato com o povo local. Estava lotada de mulheres que brincaram comigo.

Pelo caminho ha pastoras conduzindo gado, ovelhas sempre com um fiel companheiro.

Uma hora depois, chego a entrada da trilha no vilarejo de Pitec. Um guarda cobra a entrada do Parque Nacional Huascaran: $5 soles pelo dia ou $65 s/. valido por 30 dias.
Desse ponto sao duas horas e meia de subida pelo vale, com a montanha Churup sempre ao fundo. A subida e tranquila mas a respiracao fica ofegante e os musculos cansados por causa da altitude. A lagoa fica a 4450 metros acima do nivel do mar. Em alguns trechos ha cabos de aco para auxilio da subida.


16 de julho de 2010

Comecando com o pe direito... torcido!

Depois de 8 horas de viagem de onibus de Lima, cheguei em Huaraz.
A cidade com mais de 100.000 habitantes e porta de entrada para as Cordilheiras Blanca, Negra e Huayhuash.


Estive aqui dois anos atras e tive a impressao da cidade ter crescido bastante. O ar e umido e empoeirado, os automoveis levantam uma terra fina que se espalha por toda cidade. Principal centro comercial, economico, financeiro e turistico da regiao, as mulheres ainda se vestem tradicionalmente: saias de feltro, meia-calca, sapatos e para completar o visual boneca um chapeu adornado com fitas dobradas.



Da estacao de onibus, coloquei minha mochila nas costas e fui em busca de alojamento. Numa vacilada total, quando descia de uma calcada um pouco mais alta, coloquei meu pe direito no chao da rua, meu tornozelo virou e... crack! A primeira reacao: dor. Depois vieram os pensamentos de duvidas do que esse acidente poderia acarretar: afundaria todos meus planos de trekking e escaladas que planejava por toda a temporada?
Consegui me levantar, mas a dor fez com que ficasse no primeiro hotel acessivel, sem pestaneios. Cansada pela viagem e tormento dos pensamentos, deitei na cama e adormeci.
Acordei com o tornozelo inchado, tomei um anti-inflamatorio e sai mancando para comprar uma pomada na farmacia.

Uma nova aventura comeca...

Peru - Lima


Voo Sao Paulo - Lima: quatro horas de duracao e duas de diferenca de fuso horario.
Depois de sobrevoar a nebulosidade de uma frente fria em Sao Paulo e as matas do Brasil, o cenario foi substituido pela regiao desertica do Peru e picos nevados da Cordilheira dos Andes. Um nevoeiro premedita a chegada a capital do Peru, Lima apesar de ter uma ausencia de precipitacao combina com um alto nivel de umidade atmosferica e fica encoberto a maior parte do ano.
Com uma populacao de 8 milhoes e 500 mil habitantes, esta em pleno desenvolvimento. Passeando e fazendo as ultimas compras em lojas de equipamento, vi uma cidade bem civilizada. Pudera, passei pelos bairros mais modernos San Isidro e Miraflores.

fonte:Wikipedia

O shopping Larcomar fica a beira mar e e uma das maiores concentracoes de turistas.




A grande quantidade de turistas se deve principalmente ao fato de que Lima serve de conexao para Cusco, capital do antigo imperio Inca, e o patrimonio mundial da Unesco: Machu Picchu. Ha outras atracoes turisticas ligadas a civilizacoes antigas e a natureza como as Linhas de Nazca, o Canion do Colca, o lago Titicaca e meu destino: a Cordilheira dos Andes peruana.

5 de julho de 2010

As Montanhas Mais Belas do Mundo

Talvez Sir Edmund Hillary - o montanhista e explorador neozelandês - disse seu melhor quando ele comentou: "Não é a montanha que nós conquistamos, mas nós mesmos." Não importa o quão assustadora a tarefa, a pura ambição humana superou lugares remotos invencíveis para dominar os picos mais altos no mundo. Se as montanhas são a escada "para o coração de Deus", não temos dúvida em ficar de pé ao lado Dele como iguais. O photoset seguinte celebra a beleza testemunhada ao longo do caminho.

Tomei a liberdade de fazer algumas modificações na fonte original de msaleem...
(http://webecoist.com/2008/11/13/most-beautiful-mountains-and-peaks/)

Ama Dablam – Nepal Oriental


fonte: pamilne, andersonimages

O Ama Dablam é conhecida como uma das mais impressionantes montanhas do mundo, não pela sua altitude, mas pela sua beleza, estética e pura exposição encontrada no alto de seus flancos. "Ama" significa mãe, ou mesmo mundo. "Dablam" significa uma jóia especial usada por mulheres Sherpas anciãs que guarda preciosos itens.
Justamente é chamada de "A Jóia do Himalaia".


Shivling – Uttarakhand, India


fonte: lopamudra, solafin

A montanha Shivling, assim chamada por seu status como um símbolo sagrado do deus hindu Shiva. Considerado um dos picos mais belos da região Garhwal, a montanha sobe 6.543 metros de altura. Era chamado de "Matterhorn" por antigos visitantes europeus por causa de sua similaridade com o pico alpino. Embora (também) não pela sua grande elevação, é um pico de rocha impressionante. Aliado com a dificuldade de escalá-lo, o faz um prêmio famoso para os montanhistas.


Machapuchare – Nepal Norte-Central



fonte: jean-marie hullot, willdanceforfood

Machapuchare, ou "rabo de peixe", é venerado pela população local como sagrado para o deus Shiva e, portanto, foi declarada fora dos limites para a escalada. Com cerca de 500 metros mais alto do que Shivling, Machapuchare nunca foi escalado até o cume. A única tentativa conhecida em 1957 chegou a 50 metros do cume, os escaladores respeitaram as crenças religiosas do povo local. Hoje a montanha é proibida para os escaladores.


Matterhorn – Itália/Suíça



fonte: cybernotic, chrchr_75, serac

Matterhorn tornou-se um símbolo icônico dos Alpes suíços, embora não é o pico mais alto da região. As quatro faces íngremes, elevando-se acima dos glaciares, indicam os quatro pontos cardeais. O Matterhorn foi o último grande pico alpino a ser conquistado e sua primeira ascensão marcou o fim da idade de ouro do alpinismo. Ela foi feita em 1865 por uma expedição liderada por Edward Whymper e terminou tragicamente quando a maioria dos seus membros faleceram na descida.


Fitz Roy – Argentina/Chile

fonte: lovemyblackcat

Nomeado Fitz Roy por Francisco Moreno, em homenagem ao capitão do HMS Beagle, Robert FitzRoy, também é conhecida por Cerro Chaltén.A montanha tem a reputação de ser "extrema", apesar de sua altura média (é inferior a metade do tamanho dos gigantes do Himalaia), as escarpadas de granito apresentam longos trechos de técnicas de escalada difíceis. Além disso, o clima na região é excepcionalmente mau e traiçoeiro. Ela também atrai muitos fotógrafos, graças à sua forma sobrenatural.


Alpamayo - Peru


Se para os peruanos o grande Monte Huascarán, com 6.768m. de altitude, a montanha mais alta do país e a quarta mais alta do continente americano é uma espécie de símbolo, o "grande pai", por sua vez o Nevado Alpamayo representa o orgulho jovem, belo e desafiador, cuja simetria de traços e cristas afiladas o levou a conquistar o prêmio de "A mais Bela Montanha do Mundo", concedido no Concurso Mundial de Beleza Cênica de Munique, em 1966. Evidentemente se trata apenas de um título, ainda que concedido por gente do ramo, mas é evidente que entre milhares de belas montanhas mundo afora, o Alpamayo, com 5.947m, se destaca pela beleza de suas linhas afiladas, cristas denteadas e canaletas quase simétricas. Segundo as palavras da revista "Andinismo e Glaciologia", do Perú, ele é "a jóia do turismo da Cordillera Blanca, dentro do Parque Nacional de Huascarán".

Pequeno Alpamayo - Bolívia


fonte: climber911, Atila Barros

O Pequeno Alpamayo (Alpamayo Chico), nomeado pela sua semelhança com a face menos conhecida do Alpamayo peruano é uma bela montanha localizada no maciço Condoriri. É uma pirâmide de neve, com a rota normal acerca de 55 graus de inclinação. Foi escalado pela primeira vez em agosto de 1962 por sul africanos Irene e Keith Whitelock.


fontes dos textos: Summit Post, Wikipedia, Marski

3 de julho de 2010

A Salvação no Exército



Passei o dia anterior vendo televisão no quarto do hotel. A notícia era a mesma em vários canais: nevoeiro no aeroporto de Delhi. Eu estava somente de passagem pela Índia, mas os vôos faziam escala em Delhi e Mumbai!

Depois de passar aperto para procurar um quarto acessível ao bolso, literalmente, encaminhava em direção ao aeroporto com a incerteza do que encontraria por lá. Lembrei que passei por uma greve de pilotos no aeroporto de Buenos Aires, agora era um fenômeno da natureza impedindo qualquer companhia aérea de voar.

Pessoas se aglomeravam no saguão, do lado de fora e de dentro. Celulares a todo vapor. Vou para o balcão do check in, a atendente diz que não pode efetuar meu registro não pelo nevoeiro, mas porque não tinha pago a alteração do vôo.
Eu havia mudado a data da passagem e achei que pudesse pagar no aeroporto, mas não desse lado do mundo. Eu tinha que pagar na oficina que ficava no centro da cidade! Como? Com meus trocados fiz algumas ligações telefônicas para pedir para alguém tentar pagar a taxa em uma agência em São Paulo e falando com minha mãe, descobri que além de salvadora ela tinha virado profeta: ela fez uma transferência de dinheiro pela Western Union.
Saí correndo atrás de um táxi. Veio um carrinho quadradinho branco, parecido com o nosso Fiat Uno, só que em um estilo mais antigo. Joguei minha mochila no bagageiro e mostrei o endereço anotado no caderninho. Depois de perguntar direções para outros motoristas, partimos. Eram quatro horas da tarde as ruas já estavam com tráfego pesado. Íamos parando de tempo em tempo para perguntar a direção. E o tempo ia passando. Comecei a ver várias placas Western Union, e em uma delas pedi para ele parar. Ainda pensei na minha mochila quando deixei o carro, mas saí correndo para abastecer meu bolso. Retirei o dinheiro sem complicações e voltei para saber se o carro ainda estava lá. E estava. Os indianos cuidam do karma. Mas pra cortar caminho, não resistiu a tentação de uma contramão. A lei de Murph prevaleceu e na esquina um policial nos aguardava seguindo com os olhos. Só esticou o indicador passando em frente ao bigode e encostamos. Começou o blá blá blá, e o tempo foi passando. O policial fazia cara de durão, e o motorista cara de arrependido e de que nunca mais ia fazer aquilo na vida dele. O documento passou de uma mão pra outra, uma hora, ele voltou. Demos uma meia volta e seguimos pelo fluxo correto. Quando finalmente encontramos a agência: fechada. Voltei para o aeroporto no vazio dos pensamentos.


Entre os desesperados para conseguir uma passagem para sair daquela cidade eu estava com uma mas não podia voar. Desiludida mas sem mais o que fazer, insisti no meu check in. Imagino que a pressão do clima deve ter abalado os nervos de todos, o atendente pediu o auxílio da chefe que por um acesso de sistema, me liberou para embarque. E não precisava correr mais, o vôo estava atrasado. Pelo menos estava programado, muitos eram simplesmente cancelados. Quatro horas depois, já tínhamos comido com o cartão de embarque no restaurante do aeroporto e o horário postergado duas vezes, embarcamos. Cheguei em Mumbai somente para confirmar que tinha perdido minha conexão para Joanesburgo. Na madrugada, os balcões estavam fechados. Só me restava esperar, o que aconteceu lá mesmo. Pela manhã descobri que o vôo não é diário e precisaria esperar no mínimo alguns dias, pois o vôo seguinte estava lotado. Pelo menos dessa vez eu tinha algum dinheiro.



Foi assim que conheci Mumbai. Nem parece que estava na Índia, prédios modernos e cidade aglomerada na península, mar para os dois lados. Cidade dos famosos por sediar a famosa Bollywood, a maior indústria de cinema indiano.




Com isso o preço dos hotéis também sobe. Começo a conversar com um turista que me diz que está no lugar mais barato da cidade. Acompanho ele pelas ruas no centro antigo de Mumbai e entramos numa porta que dizia: The Salvation Army. Paguei em uma cama no dormitório do albergue 225 rupias, o equivalente a quase cinco dólares.