Viagens, culturas, aventuras, montanhas, escaladas, trilhas, fotografia e filmes da natureza.

“Para viajar basta existir. ... Fernando Pessoa

19 de dezembro de 2011

A Origem do Homem Americano

Museu do Homem Americano

Atravessei o Piauí e conheci dois Parques Nacionais de grande respeito histórico, com muitos mistérios a serem desvendados até os dias de hoje. Abandonei a leseira praiana para me envolver na história do Homo sapiens no sertão nordestino que pode mudar a história das Américas.

Pedra da Tartaruga

Parque Nacional de Sete Cidades

Pertence aos municípios de Piracuruca e Piripiri, este último pelo qual tive acesso. Peguei carona no ônibus que leva os funcionários para o parque, ele parte diariamente às sete horas da Praça da Bandeira.
Nomeado pelo agrupamento de sete formações rochosas, suas torres abrigam pinturas rupestres que mostram procedimentos de caça e conceitos religiosos entre diversas situações. As pinturas foram datadas em 6000 anos pelo método carbono 14 representam uma maioria de grafismos puros, algumas mãos, pés, figuras humanas e répteis extremamente simples e esquematizados. Uma das mais interessantes é uma estrutura helicoidal que se assemelha ao ADN.


Estrutura helicoidal semelhante ao ADN

O passeio passa pelas cidades de pedra e pelas esculturas formadas pelo vento, sol e chuva através do tempo e receberam nomes como Biblioteca, Pedra do Elefante, Camelo, Cachorro, Cotia não. Apesar do aspecto seco da topografia ruiniforme e da vegetação de cerrado, o parque abriga nascentes sendo possível um bom mergulho na Piscina dos Milagres.

Cabeça do Índio e Três Reis Magos

Pesquisadores passaram por aqui e desenvolveram diversas teorias. Jacques de Mahieu, francês, em 1974 atribuiu as inscrições e pinturas rupestres aos vikings, pela semelhança com os caracteres rúnicos. O suíço Ludwig Schwennhagen acreditava na influência dos fenícios sobre os indígenas, especialmente nos ensinamentos aos chefes tupi sobre o preparo das tintas.
Os trabalhos dos arqueólogos continuam apesar das dificuldades que enfrentam como a conservação dos sítios e apoio financeiro.


Vista do mirante

Parque Nacional da Serra da Capivara

É um tesouro nacional. Em São Raimundo Nonato, sul do Piauí, foram encontradas os vestígios humanos mais antigos das Américas. No sítio arqueológico do Boqueirão da Pedra Furada, na Serra da Capivara foram encontrados fogueiras datadas em 50.000 anos e artefatos de 45.000 anos pelo método carbono 14. Mais abaixo destas camadas a idade dos carvões chegou a 100.000 anos pelo método da luminescência.

Paredes repletas de história

Hoje sabemos que há evidências humanas no sítio arqueológico de Clóvis, Novo México, Estados Unidos, datado de 11.200 anos; em Monte Verde, sul do Chile com 12.500 anos e Luzia, o fóssil humano encontrado em Lagoa Santa, Minas Gerais, com cerca de 11.400 a 16.400 anos que reacendeu os questionamentos da origem do homem americano ter vindo da Sibéria pelo Estreito de Bering. Luzia tem traços de africanos e australianos e sugere diferentes origens ao longo dos 100.000 anos de ocupação humana das terras americanas.


Origens diversas

O Parque Nacional Serra da Capivara abriga importantes sítios arqueológicos repletos de pinturas rupestres. Há figuras humanas, animais, plantas e objetos, grafismos reconhecíveis e pinturas de grafismo puro. Cenas do cotidiano estão representadas com a impressão de movimento em cenas de sexo, partos, caçadas e diversos tipos de rituais.

Patrimônio da Humanidade

A predominância da tradição Nordeste de pintura rupestre na região se caracteriza pelo grafismos reconhecíveis em ação. As figuras humanas e animais aparecem em proporções iguais e são mais numerosas que as representações de objetos e figuras fitomorfas. Os grafismos puros aparecem em nítida quantidade minoritária.
Fósseis de mastodontes, tigres-dente-de-sabre e preguiças-gigantes e diversos artefatos também foram encontrados na região.


Fósseis de gigantes pré-históricos

O Museu do Homem Americano fica perto da cidade e complementa o conhecimento adquirido. Resultado de quase 40 anos de pesquisas expõe crânios, esqueletos e objetos encontrados no Parque e está sempre sendo atualizada com novas descobertas.

Sequência acrobática

O fato é que a história permanece aberta, o trabalho de escavações continua surpreendendo arqueólogos. A origem do Homem Americano permanece em discussão, basta saber se teremos tempo e recursos suficientes para poder reescrever a história como ela realmente aconteceu.

Carne seca, tradição pré-histórica

Para saber mais:
http://www.historiadomundo.com.br/artigos/povoacao-da-america.htm
http://www.comciencia.br/reportagens/arqueologia
http://www.fumdham.org.br/
How old is Luzia? Luminescence dating and stratigraphic integrity at Lapa Vermelha, Lagoa Santa, Brazil - James Feathers, Renato Kipnis, Luis Piló, Manuel Arroyo-Kalin, David Coblentz

24 de agosto de 2011

Paraísos do Brasil: Lençóis Maranhenses e Jericoacoara


Infância nas dunas maranhenses

Os Lençóis... não esperava voltar para aquele pedaço do céu tão cedo. Levei minha irmã para a travessia do Parque em 2009 e exploramos as belezas daquele emaranhado de lagoas e dunas de areia a pé. Conhecemos os oásis que caminham lentamente com as dunas e abrigam as comunidades de Baixa Grande e Queimada dos Britos e dos Paulos.


As curvas sedutoras dos Lençóis

Dessa vez em um grupo bem eclético, nos deleitamos com as delícias culinárias de Dona Luzia na Ponta de Atins. Sabores inesquecíveis de pratos preparados com os mais frescos camarões e peixes, receitas dignas dos deuses. O segredo? Dona Luzia com suas longas madeixas negras abre um sorriso maroto...


Dona Luzia entre argentinos, um francês, uma espanhola, um italiano e paulistas
(tentar adivinhar quem é quem é uma tarefa árdua)

As dunas terminam em um litoral plano e largo por onde resolvemos seguir viagem. Atravessamos o Rio Preguiça com sete passageiros e suas respectivas mochilonas além de dois tripulantes, todos em um equilíbrio mudo dentro de pequena canoa, preparados para começar a nadar a qualquer hora. Mesmo apreensivos pudemos apreciar a bela paisagem dos manguezais, palmeiras (a maioria buritis, juçaras e carnaúbas) e alguns guarás com sua bela plumagem vermelha. Caburé, Mandacaru, Paulinho Neves, Tutóia e Parnaíba; canoa, caminhão, ônibus e jardineira foram nossa rota para o outro pedaço de céu na terra.


A pequena grande canoa, dois destes esperaram o retorno em uma estreita faixa de areia

Jericoacoara foi descoberta pelo turismo há muitos anos, graças a uma lei federal de 1984 que a declarou área de proteção ambiental, em 2002 ainda ganhou o reforço máximo quando foi nomeada Parque Nacional, a vila de Jericoacoara permanece isolada pelas suas belas dunas de areia de tons amarelos e laranjas.


O brilho prateado do mar de Jericoacoara

A preguiça atravessou o rio e seguiu pelo calor e vai e vem das marés que esticam e encurtam a faixa de areia das praias de Jeri. Subir a grande duna e curtir o pôr do sol na duna é um dos programas diários, assim como a capoeira, a Pedra Furada, o farol, windsurf, kitesurf, redesurf...


Beleza singela

Me despedi da trupe com um pôr do sol mais deslumbrante que o outro para me aprofundar um pouco mais na história da chegada do homem ao continente americano.


Estripulia nas dunas


12 de julho de 2011

Ponto final: Belém

Novas amizades

Segunda e última parte da viagem de barco pelo Rio Amazonas. Depois de uma certa correria pelas ruas de Santarém, entramos no barco com destino a Belém. A amizade com os argentinos que tocam samba e cantam em português consolida e novas amizades foram feitas.


Samba argentino

As margens continuam cada vez mais distantes no primeiro dia, o rio segue imponente ao longo do horizonte. Só vemos algumas casas e criações de gado ao longe. Com tempo de sobra sob uma certo confinamento, conhecemos muitas pessoas e recebemos algumas visitas inesperadas .


E agora, como eu saio daqui?

Conhecemos o Superman no almoço. Fiquei surpresa quando me disse que era paraense: pele branca, claríssima, alto, olhos azuis. Pode ter sido resultado da imigração do ciclo da borracha na metade do século XIX ou dos povos do sul em busca de terras em 1970, sei que ele é a cara do ator americano Christopher Reeve, o eterno Super-Homem.


Origens diferentes no mesmo barco

No segundo dia, o barco entra no estreito de Breves e ficamos muito próximos às margens. Foi bem interessante nos aproximar da vida ribeirinha com suas casas palafitadas, algumas interligadas por passarelas flutuantes. Sem energia elétrica esses caboclos vivem no sobe e desce da água fazendo do rio seu lar. Lavam suas roupas, limpam peixes, pintam suas casas e as crianças se divertem entre um banho de rio e outro.


Vendo a vida passar

Mercadorias aparecem pelas canoas ribeirinhas. Os vendedores, na maioria apenas meninos, aproximam dos barcos e engancham um pedaço de ferro depois amarram a canoa em uma verdadeira cena de ação, pois tudo isso é feito com o barco em movimento. Palmito, côco, cacau, açaí e um apetitoso camarão.


Camarão a bordo

Anoiteceu, depois da janta e de muita conversa, a velocidade do barco diminui drasticamente, o canhão de luz se agita e não para, era o mestre tentando encontrar a entrada do regato que devíamos tomar. A margem chegava cada vez mais perto, por um momento achei que íamos bater ou encalhar. O barco foi virando e em uma velocidade mínima entramos no pequeno braço do rio para dar sequência a viagem. Os rios são estradas na Amazônia, os estreitos, travessas.

Recebe doações

Amanheceu e os preparativos para o desembarque começaram cedo. É hora de desarmar a rede e arrumar a mochila. Perto de meio-dia avistamos Belém ao longe, nosso ponto final da viagem de barco pela Amazônia. Uma experiência fantástica nesse vasto Brasil Norte, a maior região do país.

Belém à vista

31 de maio de 2011

No Coração da Amazônia



Entre a viagem de barco de Manaus a Belém, a cerca de uma hora de Santarém, encontro um paraíso de água doce provido pelo grande Rio Tapajós. Alter do Chão possui praias com águas calmas e transparentes e muitos botos. Só fique atento ao período das chuvas, você pode se sentir enganado já que nessa época do ano as praias simplesmente desaparecem.


A comunindios nos acolheu nos primeiros dias no meio de muito verde e muita paz. A pequena vila possui bares e restaurantes ao redor da praça principal. Para ter acesso a praia e necessário atravessar o braço do rio que pode ser feita a nado ou nas pequenas embarcações que vão e voltam até cair o dia.


Perto de Alter encontramos a Fordlândia, hoje uma cidade fantasma com estruturas de galpões e casas que são testemunhas da história. Henry Ford, no final da década de 30, investiu na região com a intenção de suprir borracha para a fabricação de seus automóveis. O choque cultural combinado com o aparecimento de uma praga nas seringueiras contribuíram para sua decadência, mas o motivo principal foi o aparecimento da borracha sintética.


Os turistas, brasileiros e estrangeiros, se deleitam com a atmosfera tranquila da pequena vila entre praias e passeios de barco para observar os botos que aparecem no final do dia. Na Ponta do Cururu, as pessoas parecem caminhar sobre a água. Um belo pôr do sol encerrou nossa estadia no Caribe Amazônico.

4 de maio de 2011

O Rio Amazonas, de Manaus a Santarém



Atravessar a Amazônia é um desafio. Uma densa floresta cria uma barreira natural contra a civilização. Com estradas precárias o único meio de transporte viável é feito pelo grande Rio Amazonas que corta o norte do Brasil.



O Rio Amazonas nasce no Peru, entra no Brasil com o nome de Solimões e no encontro com as águas do Rio Negro em Manaus, recebe o nome de Amazonas. É o maior rio do mundo tanto em volume quanto em comprimento (de acordo com estudos realizados em 2007), e provê 20% de água doce do mundo.



O barco saiu de Manaus ao meio-dia brasileiro. As redes formam um emaranhado, difícil encontrar de cara sua rede nesse labirinto.
O encontro das águas do Rio Negro com o Solimões acontece logo depois que saímos da cidade. Por quilômetros vemos um estampado de manchas escuras e águas barrentas até enfim elas se misturarem.



A paisagem é sempre a mesma com as margens planas da bacia amazônica bem ao longe. A largura do rio chega a 50 quilômetros. Cruzamos algumas embarcações e ultrapassamos outras. A viagem é agitada ao som do brega, ritmo dominante da região norte.



Depois de dois dias e muita conversa, chegamos em Santarém onde resolvi dar uma parada da longa viagem de barco. Qual não foi minha surpresa ao conhecer o que está escondido no coração da Amazônia.

21 de março de 2011

Monte Roraima



Depois de atravessar a Venezuela a preço de banana, graças à gasolina que é mais barata que água, finalmente cheguei no Mundo Perdido dos tepuyes.
Tepuy são plataformas enormes, curiosas formações de montanhas de bilhões de anos que se elevam no horizonte da região fronteiriça entre Guiana, Venezuela e Brasil.



Partimos da vila de Paraitepui no calor da Venezuela, nuvens cobriam o topo dos tepuyes Kukenan e Roraima. A caminhada é plana com subidas e descidas leves. Quatro horas depois, passamos pelo acampamento do rio Tek e atravessamos o primeiro rio. A água bate nas pernas, para mim, nas coxas. Mesmo com o conselho de que seria melhor atravessar o rio de meias, atravessamos descalços com os pés deslizando sobre as pedras e os puri puris, ágeis borrachudos, comendo nossas canelas. Um pouco mais adiante, atravessamos o segundo rio, o Kukenan para chegarmos no nosso acampamento.



No segundo dia a trilha segue plana, mas depois de umas duas horas começa a subir. Uma chuva caiu, não intensa, mas leve e densa. Paramos para um lanche no acampamento militar, e pouco mais de uma hora, chegamos no acampamento base. A impressão foi a pior possível, lama e barro por todos os lados, muita sujeira e acampamento lotado, mas estávamos aos pés do big wall.



O dia da subida chegou. A trilha sobe íngreme em direção ao paredão e seguimos por um sobe e desce colado à parede gigante. O calor úmido é refrescado em uma das últimas partes da subida, uma travessia linda sob as gotas da cachoeira chamado de passo das lágrimas. Um pouco mais de esforço e finalmente: Bem-vindo ao Mundo de Roraima!



Não é à toa que os tepuyes são considerados locais sagrados pelos indígenas, as formações rochosas revelam um outro mundo lá em cima como se fosse um grande altar. Caminhamos em direção ao nosso "hotel", como são chamados as cavernas dormitórios, ao lado de um abismo e felizmente tivemos uma vista espetacular paredão abaixo.



Encontramos vale de quartzos, plantas endêmicas, sapinhos em miniatura, cachoeiras, orquídeas, plantas carnívoras a até jacuzzis naturais. Chuva, neblina e sol faziam rodízio durante o dia, pena que tivemos só um dia para explorar o território.



A descida teve um gostinho de tristeza de estarmos deixando aquele platô mágico, mas ganhamos um dia maravilhoso ensolarado que foi fechado com chave de ouro em um pôr do sol magnífico de despedida.



Os indígenas veneram, inspira Conan Doyle a escrever o Mundo Perdido, suas paredes instigam escaladores... o Monte Roraima é um entre mais de cem tepuyes.



Mais fotos no multiply (http://emiliay.multiply.com/photos/album/58)

9 de fevereiro de 2011

Colômbia, La Cumbia


Café secado nas ruas da zona cafeeira

Produtor do melhor café do mundo, repleto de borboletas e cachoeiras, dominado por montanhas, talvez esse um dos principais motivos que me levaram a me apaixonar por esse país, ainda em guerra contra o narcotráfico e as FARC.


Colônias de borboletas em San Augustin

Já foi mais perigoso viajar pela Colômbia. Uribe, após assumir a presidência em 2002, diminuiu a tolerância contra o domínio das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia e colocou homens do exército armados em quase todas as cidades e postos de controle nas estradas.


Bogotá, a capital

Aos poucos, o turismo na Colômbia vem crescendo e mais pessoas vão conhecendo esse povo maravilhoso e sua cultura miscigenada como a nossa. As praias, montanhas, as ruínas, a cumbia, a rumba, comer manga verde com sal e pimenta, obleas, empanadas, tamales...


Salento colonial

Entrei pelo país pelo sul, fazendo a minha primeira parada na cidade colonial de Popayan. Uma viagem de ônibus de mais de seis horas para percorrer uma distância de 130km para a pequena San Agustin me deu uma amostra do que enfrentaria nas estradas da Colômbia: curvas, curvas e mais curvas.


Xavi em Fuego en La Proa

O deserto de Tatacoa estava verde, resultado da temporada de chuvas que este ano resolveu vir pesada. Deslizamento de terras e enchentes eram constantes nas notícias e nas minhas mudanças de planos. Abordei uma travessia pela Serra Nevada de Cocuy por não enxergar mais nada além de nuvens e sentir tudo ficar molhado.


O deserto de Tatacoa

As paisagens das palmeiras de cera que podem chegar a 70 metros e a muralha da Mojarra fecharam com chave de ouro mas deixando uma fresta de uma janela aberta para voltar ao país que tem muito mais a oferecer.


Palmeiras de cera do Vale de Cocora

Para qualquer um que perguntava como era a Colômbia, todos respondiam:
- É lindo! As pessoas... são demais!
Só pude comprovar a veracidade dos comentários na minha passagem pelo país.


A Mojarra, o paraíso da escalada em rocha