As Aventuras de Emilia
Viagens, culturas, aventuras, montanhas, escaladas, trilhas, fotografia e filmes da natureza.
“Para viajar basta existir.” ... Fernando Pessoa
18 de dezembro de 2012
31 de julho de 2012
Uma pequena travessura no grande Gelo Continental Patagônico
O Campo de Gelo Patagônico Sul é uma grande extensão dos gelos continentais, terceira mais extensa do mundo (a primeira é a Antártida seguida pela Groenlândia, em segundo). É chamada de "Hielo Continental Patagônico" na Argentina e "Campo de Hielo Sur" no Chile.
Chegamos em El Chaltén nas primeiras horas da manhã. Realizamos os últimos preparativos e partimos no ônibus das 15 horas em direção ao Rio Elétrico por 55 pesos. O motorista nos deixou no começo da trilha, logo antes da ponte. A placa anunciava o pagamento de uma taxa de 75 pesos entre as informações, e um protesto pichado "ladrones".
Passamos pela casa já era seis da tarde, ninguém apareceu e continuamos sem olhar muito para trás. Caminhamos até oito e meia onde resolvemos acampar em uma praia. Não estava ventando nem fazia muito frio. O Fitz Roy é o primeiro e o último a receber os raios de sol, todos os dias.
O dia amanhece tarde. Levantamos acampamento e seguimos pela trilha que passa por um largo trecho de deslizamento de pedras. Chegamos na Playita eram umas dez da manhã. A praia patagônica é linda e cheia de curvas sedutoras mas só os pássaros locais para aproveitar um banho, a água é gelada.
Subimos e demos de cara com o glaciar. A língua de gelo apontava direto pra nós. Encontramos marcas na entrada do glaciar logo no começo do gelo. Nos equipamos e... rock n'roll!
Conforme subíamos, a vista ficava cada vez mais linda. Momento a momento chegávamos mais perto das montanhas, e dos seracs. Houve uns dois desmoronamentos chamando nossa atenção. Passado o perigo, paramos para comer algo.
A subida continuou com uma inclinação mais amena, mas parecia não ter fim. Os últimos raios de sol anunciaram a noite e o cansaço. O Gorra Blanca ficou incrivelmente Rosa, mas ainda não tínhamos chegado. Nove horas, dez da noite, onze... Na insistência caminhamos até que finalmente alcançamos umas rochas e logo, o Refúgio. Casa, comida e colchões!
O dia amanheceu com algumas nuvens e pouco vento. Foi possível então admirar a vista que a escuridão da noite não deixou. Fitz Roy, Agulha Pollone, Pier Giorgio e até o Cerro Torre, estavam todos lá. A grande plataforma de gelo e o mar infinito de gretas também. Coloquei um som no refúgio enquanto tomávamos o café da manhã.
Saímos vagarosamente do refúgio era quase meio-dia. Descemos para um gelo duro, mas depois veio uma neve quase fofa. Encontramos pegadas antigas de raquete e segui por cima delas.
A plataforma é gigante. Uma imensidão branca delimitada por algumas montanhas. Para alcançar essas montanhas são quilômetros, horas de caminhada. Tudo é longe e branco.
Li uma vez que uns seres tentaram atravessar o gelo puxando caiaques, imaginei a cena surreal.
Paramos perto de uma trincheira para comer. As gretas apareceram novamente e o Cerro Torre se aproximava. Chegamos no Circo dos Altares, um cercado de montanhas magnífico. Subimos por rochas e gretas cada vez maiores, um sobe e desce que judiava. O sol bateu amarelo nas paredes dos altares e se pôs. Acampamos no meio do glaciar quando anoitecia. Não tinha vento, estávamos com sorte. Só estrelas, maravilhoso!
Pintaram o céu de azul enquanto dormíamos. Na manhã seguinte não havia nenhuma nuvem, fantástico!
Descemos pelo melhor gelo de toda a trilha: liso, firme e sem gretas. Mal deu tempo para curtir esse tapete, as gretas começaram a aparecer e não pararam mais. Assim demos continuidade a sessão "pula-gretas".
No início do enorme Glaciar Viedma encontramos várias raquetes abandonadas. Apareceram uns totens um pouco mais a frente e entramos na terra. Passamos por algumas lagoas, pela Lagoa dos Esquies e pontos de acampamento, seguimos até chegar em uma planície seca. Completamos um murinho de pedras, como se fosse adiantar muito, e armamos a barraca na maior ventania.
Amanheceu molhado. Já imaginava ter que andar com tudo ensopado mas só estava chuviscando. A ventania não dava trégua, embolei a barraca que ficou um rolo só e partimos. Passamos pela Lagoa Ferrari e subimos em direção ao Paso del Viento com o próprio nos sacudindo. Uma hora e meia depois já estávamos lá em cima. Do outro lado tivemos uma vista maravilhosa das geleiras, dali pra frente era só descida.
No segundo braço da geleira o caminho é pelo gelo novamente. Caminhamos uns 40 minutos com os crampons, pela última vez. Quando as gretas aumentaram de tamanho, saímos pela terra e encontramos a trilha. Paramos para comer e realizei uma "operação esparadrapo" nos meus pés cheios de bolhas. Eram nove no pé esquerdo e cinco no direito. Coloquei uma meia extra e as botas se transformaram em um cinco-estrelas.
Nosso primeiro contato humano foi com um casal que voltava do Paso, avisaram que teríamos que atravessar o rio. O temor virou realidade, tiramos as botas, os pés doeram, congelaram, depois voltaram aos seus postos. Passamos pelo camping da laguna Toro com algumas barracas, eram umas 6 horas.
Seguimos adiante com chuvisco, muito vento e caminhada por uma trilha bem demarcada. Pegamos uma subida longa e suave, passamos por pastos e escureceu. Uma luva minha ficou no meio do caminho, desculpe natureza. Seguimos em silêncio até aparecer as luzes de El Chaltén ao longe. Demorou horas para as luzes se aproximarem. Meus pés doíam, tudo doía. Casas apareceram, placas, estrada, ponte, civilização. Chegamos no albergue meia-noite e meia. Um hóspede apareceu, entrou pela janela do quarto dele e abriu a porta pra nós. Cada um tomou posse de um sofá e dormimos ali mesmo.
O Campo de Gelo é imenso e traz muitas possibilidades de trilhas, travessias e escaladas. Conhecemos uma pequena parcela dessa plataforma de gelo fenomenal com uma vista diferente de grandes ícones do montanhismo patagônico. Tivemos sorte com relação ao clima que é uma preocupação de grandes proporções quando se trata de expedições nessa região. Parece que tivemos o aval do universo para realizar essa linda travessura.
Mais fotos: http://emiliay.multiply.com/photos/album/64/64
Vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=KO6webxrBuM
Pontos de GPS: http://pt.wikiloc.com/wikiloc/view.do?id=3164019
Imensidão branca
Chegamos em El Chaltén nas primeiras horas da manhã. Realizamos os últimos preparativos e partimos no ônibus das 15 horas em direção ao Rio Elétrico por 55 pesos. O motorista nos deixou no começo da trilha, logo antes da ponte. A placa anunciava o pagamento de uma taxa de 75 pesos entre as informações, e um protesto pichado "ladrones".
Aviso no início da trilha
Passamos pela casa já era seis da tarde, ninguém apareceu e continuamos sem olhar muito para trás. Caminhamos até oito e meia onde resolvemos acampar em uma praia. Não estava ventando nem fazia muito frio. O Fitz Roy é o primeiro e o último a receber os raios de sol, todos os dias.
Amanhece na praia de montanha
O dia amanhece tarde. Levantamos acampamento e seguimos pela trilha que passa por um largo trecho de deslizamento de pedras. Chegamos na Playita eram umas dez da manhã. A praia patagônica é linda e cheia de curvas sedutoras mas só os pássaros locais para aproveitar um banho, a água é gelada.
As curvas da Playita
Subimos e demos de cara com o glaciar. A língua de gelo apontava direto pra nós. Encontramos marcas na entrada do glaciar logo no começo do gelo. Nos equipamos e... rock n'roll!
Conforme subíamos, a vista ficava cada vez mais linda. Momento a momento chegávamos mais perto das montanhas, e dos seracs. Houve uns dois desmoronamentos chamando nossa atenção. Passado o perigo, paramos para comer algo.
Caldeirão do Marconi
A subida continuou com uma inclinação mais amena, mas parecia não ter fim. Os últimos raios de sol anunciaram a noite e o cansaço. O Gorra Blanca ficou incrivelmente Rosa, mas ainda não tínhamos chegado. Nove horas, dez da noite, onze... Na insistência caminhamos até que finalmente alcançamos umas rochas e logo, o Refúgio. Casa, comida e colchões!
Gorra Blanca Rosa
Maciço ilustre
O dia amanheceu com algumas nuvens e pouco vento. Foi possível então admirar a vista que a escuridão da noite não deixou. Fitz Roy, Agulha Pollone, Pier Giorgio e até o Cerro Torre, estavam todos lá. A grande plataforma de gelo e o mar infinito de gretas também. Coloquei um som no refúgio enquanto tomávamos o café da manhã.
Jimi de café da manhã
Saímos vagarosamente do refúgio era quase meio-dia. Descemos para um gelo duro, mas depois veio uma neve quase fofa. Encontramos pegadas antigas de raquete e segui por cima delas.
A plataforma é gigante. Uma imensidão branca delimitada por algumas montanhas. Para alcançar essas montanhas são quilômetros, horas de caminhada. Tudo é longe e branco.
Entre o céu e o gelo
Li uma vez que uns seres tentaram atravessar o gelo puxando caiaques, imaginei a cena surreal.
Paramos perto de uma trincheira para comer. As gretas apareceram novamente e o Cerro Torre se aproximava. Chegamos no Circo dos Altares, um cercado de montanhas magnífico. Subimos por rochas e gretas cada vez maiores, um sobe e desce que judiava. O sol bateu amarelo nas paredes dos altares e se pôs. Acampamos no meio do glaciar quando anoitecia. Não tinha vento, estávamos com sorte. Só estrelas, maravilhoso!
Mar de gretas au naturel
Cercado por altares
Pintaram o céu de azul enquanto dormíamos. Na manhã seguinte não havia nenhuma nuvem, fantástico!
Descemos pelo melhor gelo de toda a trilha: liso, firme e sem gretas. Mal deu tempo para curtir esse tapete, as gretas começaram a aparecer e não pararam mais. Assim demos continuidade a sessão "pula-gretas".
No início do enorme Glaciar Viedma encontramos várias raquetes abandonadas. Apareceram uns totens um pouco mais a frente e entramos na terra. Passamos por algumas lagoas, pela Lagoa dos Esquies e pontos de acampamento, seguimos até chegar em uma planície seca. Completamos um murinho de pedras, como se fosse adiantar muito, e armamos a barraca na maior ventania.
Glaciar Viedma
Paso del Viento e o Glaciar Viedma
Amanheceu molhado. Já imaginava ter que andar com tudo ensopado mas só estava chuviscando. A ventania não dava trégua, embolei a barraca que ficou um rolo só e partimos. Passamos pela Lagoa Ferrari e subimos em direção ao Paso del Viento com o próprio nos sacudindo. Uma hora e meia depois já estávamos lá em cima. Do outro lado tivemos uma vista maravilhosa das geleiras, dali pra frente era só descida.
Glaciares do Rio Túnel
No segundo braço da geleira o caminho é pelo gelo novamente. Caminhamos uns 40 minutos com os crampons, pela última vez. Quando as gretas aumentaram de tamanho, saímos pela terra e encontramos a trilha. Paramos para comer e realizei uma "operação esparadrapo" nos meus pés cheios de bolhas. Eram nove no pé esquerdo e cinco no direito. Coloquei uma meia extra e as botas se transformaram em um cinco-estrelas.
Chuva e sol
Nosso primeiro contato humano foi com um casal que voltava do Paso, avisaram que teríamos que atravessar o rio. O temor virou realidade, tiramos as botas, os pés doeram, congelaram, depois voltaram aos seus postos. Passamos pelo camping da laguna Toro com algumas barracas, eram umas 6 horas.
Caminho de volta: da Laguna Toro a El Chaltén
Seguimos adiante com chuvisco, muito vento e caminhada por uma trilha bem demarcada. Pegamos uma subida longa e suave, passamos por pastos e escureceu. Uma luva minha ficou no meio do caminho, desculpe natureza. Seguimos em silêncio até aparecer as luzes de El Chaltén ao longe. Demorou horas para as luzes se aproximarem. Meus pés doíam, tudo doía. Casas apareceram, placas, estrada, ponte, civilização. Chegamos no albergue meia-noite e meia. Um hóspede apareceu, entrou pela janela do quarto dele e abriu a porta pra nós. Cada um tomou posse de um sofá e dormimos ali mesmo.
Vista aérea
O Campo de Gelo é imenso e traz muitas possibilidades de trilhas, travessias e escaladas. Conhecemos uma pequena parcela dessa plataforma de gelo fenomenal com uma vista diferente de grandes ícones do montanhismo patagônico. Tivemos sorte com relação ao clima que é uma preocupação de grandes proporções quando se trata de expedições nessa região. Parece que tivemos o aval do universo para realizar essa linda travessura.
Vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=KO6webxrBuM
Pontos de GPS: http://pt.wikiloc.com/wikiloc/view.do?id=3164019
16 de julho de 2012
A Cachoeira do Buracão
É uma das grandes maravilhas da Chapada Diamantina. Impressiona tanto no porte quanto pela sua localização. Seu nome já diz, é um grande buraco, um panelão, e o melhor é como você chega aos pés dela.
Percorri trinta quilômetros por uma estrada rural com o guia-moto-táxi. Seguimos a pé por uma trilha que acompanha o Rio Riachão por cerca de uma hora entre largos fluxos de água e grandes piscinas naturais. O barulho caudaloso da queda atiça os ânimos, chegamos no mirante. Ficamos na borda de um enorme poço natural com cerca de 50 metros de diâmetro e 90 de profundidade.
A trilha continua adentrando os paredões abaixo. Para chegar na cachoeira atravessamos uma ponte e seguimos trepando pela lateral de um estreito cânion, é possível ir pela água também. O ruído estrondoso antecipa a bela surpresa que aparece no fundo do grande beco sem saída: a grande queda cercada por paredes laminadas, formadas por inúmeras camadas de arenito, conglomerados e calcários por milhões de anos.
Aproveitamos o máximo, saltando pelas lâminas ou entrando por detrás da cortina de água sentindo encurralada pela força da natureza. É preciso uma certa coragem para saltar contra a cortina, mas logo tudo passa e estamos no meio do panelão deslizando com a correnteza.
Percorri trinta quilômetros por uma estrada rural com o guia-moto-táxi. Seguimos a pé por uma trilha que acompanha o Rio Riachão por cerca de uma hora entre largos fluxos de água e grandes piscinas naturais. O barulho caudaloso da queda atiça os ânimos, chegamos no mirante. Ficamos na borda de um enorme poço natural com cerca de 50 metros de diâmetro e 90 de profundidade.
Aproveitamos o máximo, saltando pelas lâminas ou entrando por detrás da cortina de água sentindo encurralada pela força da natureza. É preciso uma certa coragem para saltar contra a cortina, mas logo tudo passa e estamos no meio do panelão deslizando com a correnteza.
A Chapada Diamantina é linda, repleta de atrações naturais e culturais localizadas no coração do estado da Bahia. Suas cachoeiras são simplesmente, maravilhosas.
13 de julho de 2012
O Vale do Paty
Os primeiros habitantes do Vale do Paty foram os índios. No início do seculo XVIII foi descoberto ouro e posteriormente, diamantes na região. A exploração se dá até meados do próximo século onde chega a decadência do ciclo do diamante e inicia a era dos coronéis. Em 1985 é criado o Parque Nacional da Chapada Diamantina dando fim à exploração e início do turismo.
Há diversas opções de caminhada, normalmente as pessoas iniciam a travessia pelo Vale do Capão. Comecei a caminhada pelo povoado Guiné com uma aproximação mais rápida. Segui em direção ao mirante do Cachoeirão, um desfiladeiro em formato de caldeirão com penhascos de tirar o fôlego. Tentei encontrar a trilha que seguia diretamente em direção ao Rio Paty mas esse trecho realmente é um pouco mais complicado. No retorno montei meu acampamento em um ponto livre, na Toca do Gavião.
No dia seguinte voltei pela mesma trilha para entrar nos gerais do Rio Preto, passei pelas casas do Seu Wilson, Dona Raquel, Prefeitura contornando o Morro do Castelo em direção ao fundo do vale. Os moradores oferecem pousadas simples e refeições a preços não módicos. Acampei antes da subida da Ladeira do Império, último esforço da travessia.
A trilha sobe em ziguezague por um pouco mais de uma hora. A descida é longa e tranquila até chegar em Andaraí. O encontro com a civilização é comemorado com um belo almoço na cidade agitada pela feira semanal. O garimpo continua em andamento e busca uma regularização nos meios políticos apresentando projetos que visam minimizar o impacto sobre o ambiente através de reflorestamento e reconstituição do solo.
Por do sol nos chapadões
Há diversas opções de caminhada, normalmente as pessoas iniciam a travessia pelo Vale do Capão. Comecei a caminhada pelo povoado Guiné com uma aproximação mais rápida. Segui em direção ao mirante do Cachoeirão, um desfiladeiro em formato de caldeirão com penhascos de tirar o fôlego. Tentei encontrar a trilha que seguia diretamente em direção ao Rio Paty mas esse trecho realmente é um pouco mais complicado. No retorno montei meu acampamento em um ponto livre, na Toca do Gavião.
O mirante do Cachoeirão
No dia seguinte voltei pela mesma trilha para entrar nos gerais do Rio Preto, passei pelas casas do Seu Wilson, Dona Raquel, Prefeitura contornando o Morro do Castelo em direção ao fundo do vale. Os moradores oferecem pousadas simples e refeições a preços não módicos. Acampei antes da subida da Ladeira do Império, último esforço da travessia.
O Castelo visto da prefeitura
A trilha sobe em ziguezague por um pouco mais de uma hora. A descida é longa e tranquila até chegar em Andaraí. O encontro com a civilização é comemorado com um belo almoço na cidade agitada pela feira semanal. O garimpo continua em andamento e busca uma regularização nos meios políticos apresentando projetos que visam minimizar o impacto sobre o ambiente através de reflorestamento e reconstituição do solo.
Assinar:
Postagens (Atom)