Aluguei uma bicicleta em Bariloche e fui para o albergue pegar a minha mochila recém preparada. Que ilusão pensar que minha mochila de 80 litros caberia no minúsculo suporte bagageiro, mesmo que bem vazia. Troquei para a mochila menor mantendo o essencial: saco de dormir, barraca, comida, algumas mudas de roupa e produtos de higiene pessoal. Amarrei tudo com elásticos aranha. Era minha primeira cicloviagem, estava com um pouco de medo, tanto que enrolei pra sair do aconchego e burburinho do albergue “esperando o sol baixar um pouco”. Estudei o roteiro mais uma vez: o Cruce de Lagos é um passeio que atravessa a Cordilheira dos Andes entre ônibus e barcos. Faria a travessia no pedal.
Como o primeiro barco sai de Puerto Pañuelo logo cedo, era melhor dormir em algum camping por lá, afinal são 25 quilômetros do centro de Bariloche e ainda não tinha a menor idéia de quanto tempo eu levaria. Comecei a pedalar me acostumando com o peso da bagagem, logo em umas das primeiras decidas, escuto um barulho estranho vindo de trás... surpresa! A amarração da bagagem soltou, a mochila tombou para o lado e a roda abriu um rasgo enorme na mochila.
Depois de algumas lamentações de marinheira de primeira viagem, arrumei o mais firme que podia e continuei. O sol batia forte, nem dava pra acreditar no calor que fazia na região tão ao sul do continente. Chegando em Puerto Pañuelo a segunda surpresa: não havia campings ali por perto. Tinha duas opções: voltar 10 quilômetros no camping que passei em frente na ida ou seguir adiante e tentar arranjar algum lugar mais pra frente. Decidi seguir adiante para o Parque Municipal de Llao Llao, depois de subidas e descidas encontrei um guarda que me informou que era proibido acampar ali. O mapa indicava que havia alguns campings em Colonia Suiza, mas ao me deparar com uma estradinha de terra e um aclive acentuado, segui pela estrada para voltar no primeiro camping. O passeio estava até gostoso: poucos carros passavam, havia muito verde, beirava alguns lagos mas o peso da bagagem dobrava o esforço. A belíssima vista do ponto panorâmico compensou. Acabei por completar o Circuito Chico sem querer, voltando para o camping familiar que havia passado no começo da pedalada. Tomei um banho, armei a barraca e fui dormir sob os olhares curiosos das famílias que curtiam o feriado de Natal.
- Que visto de saída?
- O visto que você deveria ter pegado na outra fronteira.
- Que outra fronteira? Do outro lado da montanha? Vários quilômetros de subida mais alguns de descida?
- ...
Esse é o último trecho de barco, o mais longo e o mais bonito também. Passamos pela montanha Potiagudo e seguimos em direção ao vulcão Osorno. No final da tarde o barco chegou em Petrohué. Os transportes esperavam as pessoas , algumas iriam pernoitar lá mesmo e outras seguiriam para Puerto Montt. Peguei a estrada, um bom trecho de cascalho, horrível para bicicleta, muito escorregadio, depois, um bom asfalto. A estrada contorna o vulcão Osorno que parecia um cone de sorvete. Conforme o sol abaixava, o cone ia ficando laranja, foi quando cheguei a Ensenada. Esperava uma pequena cidade, mas não passa de um vilarejo espalhado ao longo da estrada. Encontrei um camping, lanchei algo que tinha mesmo, tomei banho e dormi.
Acordei cedo, o céu estava nublado. Fui atrás de informação para escalar o Osorno como uma montanhista que sou. Infelizmente como estava sozinha, sem equipamentos, a escalada iria me custar muito caro e o tempo não estava lá essas coisas, então desisti. Fiquei meio triste, mas tudo bem, estava curtindo a minha viagem de bicicleta. Parti para o último trecho. O caminho segue beirando o enorme Lago Llanquihue. Aos poucos o azul do céu aparecia entre as nuvens. Conforme avançava, o movimento aumentava e na mesma proporção, a civilização. Depois de 43 quilômetros cheguei a Puerto Varas já embaixo de um sol escaldante novamente, uma cidade pequena e turística. Há muitas pousadas e restaurantes e em um deles entrei para almoçar. Comi uma pizza deliciosa que ultrapassava os limites do prato para comemorar a etapa final da viagem.
De lá são 20 quilômetros para Puerto Montt, onde cheguei à tarde, é uma cidade bem maior. Fui em direção à rodoviária para já reservar minha passagem de volta ainda me acostumando com o retorno à civilização. Procurei hospedagem lá por perto. No dia seguinte peguei o ônibus de volta para Bariloche feliz por ter completado a missão com sucesso.
Sofri com certa falta de informação e inexperiência de cicloturista, valeu a pena ter tentado, pois serviu de aprendizado para as próximas viagens. Apreciei paisagens belíssimas curtindo o que a natureza nos proporciona e com mais uma história para contar...
Sensassionalllllllll !!!!
ResponderExcluirTambem pedalei por essas bandas .. mas Fui ate Osorno ...
bjk.
Sensacionalllllllll !!!!
ResponderExcluirTambem pedalei por essas bandas .. mas Fui ate Osorno ...
Já cruzei os lagos 3 vezes (uma delas com muita neve, e fresquinha, algo inesquecível!), e não me cansei ainda, tudo é muito lindo! Entretanto, fiz isto num esquema beeem mais leve, como turista convencional, admirei a sua coragem e disposição em fazer o percurso de bicicleta, parabéns!
ResponderExcluir