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“Para viajar basta existir. ... Fernando Pessoa

3 de julho de 2010

A Salvação no Exército



Passei o dia anterior vendo televisão no quarto do hotel. A notícia era a mesma em vários canais: nevoeiro no aeroporto de Delhi. Eu estava somente de passagem pela Índia, mas os vôos faziam escala em Delhi e Mumbai!

Depois de passar aperto para procurar um quarto acessível ao bolso, literalmente, encaminhava em direção ao aeroporto com a incerteza do que encontraria por lá. Lembrei que passei por uma greve de pilotos no aeroporto de Buenos Aires, agora era um fenômeno da natureza impedindo qualquer companhia aérea de voar.

Pessoas se aglomeravam no saguão, do lado de fora e de dentro. Celulares a todo vapor. Vou para o balcão do check in, a atendente diz que não pode efetuar meu registro não pelo nevoeiro, mas porque não tinha pago a alteração do vôo.
Eu havia mudado a data da passagem e achei que pudesse pagar no aeroporto, mas não desse lado do mundo. Eu tinha que pagar na oficina que ficava no centro da cidade! Como? Com meus trocados fiz algumas ligações telefônicas para pedir para alguém tentar pagar a taxa em uma agência em São Paulo e falando com minha mãe, descobri que além de salvadora ela tinha virado profeta: ela fez uma transferência de dinheiro pela Western Union.
Saí correndo atrás de um táxi. Veio um carrinho quadradinho branco, parecido com o nosso Fiat Uno, só que em um estilo mais antigo. Joguei minha mochila no bagageiro e mostrei o endereço anotado no caderninho. Depois de perguntar direções para outros motoristas, partimos. Eram quatro horas da tarde as ruas já estavam com tráfego pesado. Íamos parando de tempo em tempo para perguntar a direção. E o tempo ia passando. Comecei a ver várias placas Western Union, e em uma delas pedi para ele parar. Ainda pensei na minha mochila quando deixei o carro, mas saí correndo para abastecer meu bolso. Retirei o dinheiro sem complicações e voltei para saber se o carro ainda estava lá. E estava. Os indianos cuidam do karma. Mas pra cortar caminho, não resistiu a tentação de uma contramão. A lei de Murph prevaleceu e na esquina um policial nos aguardava seguindo com os olhos. Só esticou o indicador passando em frente ao bigode e encostamos. Começou o blá blá blá, e o tempo foi passando. O policial fazia cara de durão, e o motorista cara de arrependido e de que nunca mais ia fazer aquilo na vida dele. O documento passou de uma mão pra outra, uma hora, ele voltou. Demos uma meia volta e seguimos pelo fluxo correto. Quando finalmente encontramos a agência: fechada. Voltei para o aeroporto no vazio dos pensamentos.


Entre os desesperados para conseguir uma passagem para sair daquela cidade eu estava com uma mas não podia voar. Desiludida mas sem mais o que fazer, insisti no meu check in. Imagino que a pressão do clima deve ter abalado os nervos de todos, o atendente pediu o auxílio da chefe que por um acesso de sistema, me liberou para embarque. E não precisava correr mais, o vôo estava atrasado. Pelo menos estava programado, muitos eram simplesmente cancelados. Quatro horas depois, já tínhamos comido com o cartão de embarque no restaurante do aeroporto e o horário postergado duas vezes, embarcamos. Cheguei em Mumbai somente para confirmar que tinha perdido minha conexão para Joanesburgo. Na madrugada, os balcões estavam fechados. Só me restava esperar, o que aconteceu lá mesmo. Pela manhã descobri que o vôo não é diário e precisaria esperar no mínimo alguns dias, pois o vôo seguinte estava lotado. Pelo menos dessa vez eu tinha algum dinheiro.



Foi assim que conheci Mumbai. Nem parece que estava na Índia, prédios modernos e cidade aglomerada na península, mar para os dois lados. Cidade dos famosos por sediar a famosa Bollywood, a maior indústria de cinema indiano.




Com isso o preço dos hotéis também sobe. Começo a conversar com um turista que me diz que está no lugar mais barato da cidade. Acompanho ele pelas ruas no centro antigo de Mumbai e entramos numa porta que dizia: The Salvation Army. Paguei em uma cama no dormitório do albergue 225 rupias, o equivalente a quase cinco dólares.

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